Inventário 2 - Leo Divendal

Esse processo de inventário me leva a olhar para os meus trabalhos, de algum modo finalizados, até aqui. Mas neste mesmo processo não teria como não falar, também, de uma figura incrível que cruzou este meu pretenso caminho por imagens: Leo Divendal.

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Figura incrível e com uma capacidade única de condução e deslocamento dentro de um processo criativo. Um movimento muito potente no fazer. E isso muito particularmente não na perspetiva de se chegar um resultado, mas entender o processo, como um todo.

Até aqui foram quatro desses encontros, no Brasil e o último uma residência em Amsterdam, em que os dias parecem ter muito mais do que suas horas contadas, onde um turbilhão é acelerado a cada instante, onde invariavalemente uma catarse se faz presente. Thanks, Leo.

Não há perspectiva de resultado, mas foram eventos que contribuíram na finalização, se assim posso dizer, de alguns dos meus trabalhos, ou apenas deixaram um legado interior, representado, claro, por imagens, pesquisas, textos, bonecos, que certamente voltarão em algum momento de caminho por imagens, como chamei acima.

E então, inventariando:

2014, The Diary Mysteries - the meaning of shadow

[…]

Consider the diary-frames mentally as an obscure field of darkness, to take distance, to create emptiness, to step in the black field of the shadow.

Let me go deeper into this ‘field of the shadow’.

The diary is a way to reflect almost directly on the actual moment of your existence.

That’s the mysterious natural moment of talking choices, be active, feeling directly everything, desire, being afraid, nervous, excited.

All this is happening also in the moment of taking a picture, or others said: the making of an image is part of this actual moment.

The diary is an almost direct reflection on this moment, the day and night.

Suppose you put your daily pictures in the diary, then they reflect this day.

But what is present in there, in which way the pictures are imagining your actuality?

[…] @ Leo Divendal

Isso tudo quando eu estava imerso nas cenas de 70x7… e que seria finalizado meses depois.

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2016, Nomads & Shelters

[…]

’we are nomads....’ lost traces.... separated... displaced... fugitives... homeless... on the run... emigration... exil...' My idea behind NOMADS & SHELTERS is that people are on drift all over, because of circumstances, histories, personal experiences, displacements... and in any form, on any level they try do shelter themselves.

[…] @Leo Divendal

Não quero chamar de resultado, mas aqueles dias me conduziram a Call it True. Dentre imagens e textos, que compòe um caderno de processo e uma série de prints, um poema de Mia Couto se fez parte de tudo que vivi naqueles dias:

Seios e anseios

As vezes que morri

boca derramada entre os teus seios 

todas essas vezes 

não me deram luto 

porque, de mim, eu em ti nascia. 

Todos esses abismos, 

meu amor, 

não me deram regresso.

Depois de ti,

não há caminhos. 

Porque eu nasci 

antes de haver vida, 

depois de tu chegares.

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2018, Photo-Diary-Archive

Outro momento incrível no segundo semestre de 2018, em que eu estava vivenciando algo batante intenso, representado pela falta de um espaço físico meu… um sufocamento em certa medida… angústia e desejo de liberdade. Rituais, rotinas, estruturas…

Qual a busca?

Daí surgiu um trabalho de investigação territorial por meio de imagens, sempre num mesmo roteiro espacial e respeitando repetições (como um mecanismo particular - 10 noites, 10 rolos 35mm)… e um texto, meu, que me serviu a arrancar algumas angústias, num passeio muito existencialista - O rio flutuando em coexistência (e que em algum momento incluirei neste espaço).

river, carta p/ r.

Nada é real. Ela ainda me seduz e arrisco existir, ainda. São as nossas grades, agora.                            Já não mais existo.

Nada é real. Ela ainda me seduz e arrisco existir, ainda. São as nossas grades, agora. Já não mais existo.

2020, Our Deserted Times

[…]

Our time is a deserted one, not knowing where you are, one big improvisation to find your way, your destiny. In a difficult world, identity, country, culture, minorities, climate change, happiness…

Can you relate to this time, our time? How to express in your view and visual creations.

[…] @Leo Divendal

Em algum lugar de Amsterdam escrevi…

I’m in a crazy café – amazing place… children are running and playing everywhere… lots of noise…

In front of me a lady… actually an old woman – she is so amazing, so beautiful – white hairs, blue eyes, a soft smile… she is taking her coffee… I’d love to shoot and make a portrait of her… she is my father at the moment and I do not have such intimacy…

Trust me…

It is…

Ttudo ainda muito recente (e estou aqui considerando um vácuo no tempo desde março deste ano). Volto ao assunto em algum post mais adiante… Caderno de Circunstâncias, Obsessões e Elogios.

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Thanks very much, my dear Leo.